terça-feira, junho 13, 2023

Carnaval


" Carnaval, doce ilusão, dê-me um pouco de magia, de perfume e fantasia, e também de sedução...... Eu e meu amigo Orfeu, sedentos de orgia e desvario, cantaremos em sonho os cinco bailes da história do Rio....."



"Os cinco bailes da História do Rio", samba-enredo da grande escola de samba Império Serrano, de 1965, composto por Dona Ivone Lara, Silas de Oliveira e Bacalhau.






O carnaval, um evento típico da cultura latina, surgido quando o imperador de Roma, para celebrar a colheita e a fertilidade( e a sacanagem), patrocinava os festejos pagãos em homenagem ao deus Satúrno, saindo pelas ruas da " urbes", em cima de um carro alegórico em forma de barco, chamado Carro naval,este ano presenciou a bela surpresa de ver o maior país latino do mundo ter, em sua cidade mais emblemática, a revitalização por toda sua extensão urbana daquilo que lhe é peculiar.



Apesar de não ter presenciado o tão falado cordão do boitatá, por culpa do alcoôl, tive a oportunidade ìmpar de participar de um bloco muito doido chamado Alegria da ìndia.



Era segunda - feira de carnaval, e estavamos nós, já bastante alcoolizados e récem saídos do bloco Volta Alice, quando alguém teve a inusitada idéia de convocar a todos para o Cacique de ramos.





Somente me lembro que estavamos em plena Avenida Rio branco, atrás da bateria de um bloco chamado Alegria da índia.




Apesar da letra do samba ser um pouco tosca, como bem dizia o refrão:
" Não tem blablabla, nem tititi, Alegria da ìndia chegou pra sacudir", ou mesmo outra parte da bela letra: " Em busca de riquezas encontrei, não me leve a mal, largue a minha fantasia, respeita a nossa bateria....", estavamos evoluindo privilegiadamente atrás de uma boa bateria, onde diga-se de passagem, os ritmistas sabiam tocar, algo que parece não ocorrer em muitos blocos da zona sul, formados em sua grande maioria por jovens universitários brancos.




Havia alegria de verdade na Alegria da ìndia, não aquela alegria universitária branca de classe média. Era perceptível a grande mistura tropical que ali estava. Pessoas simples e normais.




Num determinado momento, a minha frente estava um senhor baixinho de óculos, extremamente feliz e tranquilo. Não podia acreditar, mas era o Chacrinha, em carne e osso.




Mais a frente, fazendo a contenção da bateria, uma mulher negra com a bunda imensa, evoluia balançando aquele belo rabo gordo.





O delírio carnavalesco tomou conta de mim, aquela avenida Rio branco estava fora de seu tempo, e eu podia jurar que estava num desfile de escola de samba em 1965, quando os desfiles realizavam-se naquela mesma Rio branco, e as coisas eram mais lúdicas e em preto e branco.





A emoção se apossou do meu ser, ao perceber que, naquela Rio branco escura e sem enfeites e adereços, as pessoas ao meu redor também estavam sentindo-se naquele desfile de 1965, onde o carnaval foi uma doce ilusão.